A plataforma vibratória foi uma invenção para contribuir na recuperação de astronautas quando retornavam de muito tempo das missões espaciais. Por volta da década de 70 a corrida espacial entre americanos e soviéticos fez com que muitas tentativas de equipes tripuladas fossem enviadas ao espaço sideral. Aos poucos foi se percebendo que quanto mais tempo os astronautas permaneceram no ambiente sem ação da força da gravidade, mas debilitados eles retornavam a terra.

Você consegue imaginar como é ficar sem a força da gravidade?

Essa força imaginária que nos prende ao chão é responsável por produzir muitas das nossas respostas metabólicas. A ação dela sobre nosso esqueleto obriga que tenhamos resistência em nossos tendões e músculos para conseguirmos nos manter eretos, além disso, nossos ossos são fortalecidos no momento em que produzimos o contato com o solo (impacto) e as trações das alavancas musculares. Portanto, ficar sem gravidade significa desativar músculos e perder cálcio, deixando nossa densidade óssea prejudicada.

Neste cenário buscou-se criar um método de treinamento que pudesse contribuir para uma recuperação mais rápida e segura. Os cientistas então chegaram ao conceito do Treinamento de Vibração de Corpo Inteiro – TVCI. Após estudos em cobaias, concluíram que a vibração e oscilação poderia contribuir para o aumento do depósito de cálcio nos ossos, bem como aumentar a força muscular.

Claro que você já deve ter visto as plataformas vibratórias sendo comercializadas como equipamentos que promovem o emagrecimento. Mas nesse mito você não cai mais, não é mesmo? Afinal, se fosse verdade, todos já teríamos uma dessas máquinas em casa!

O problema é que esse conceito de emagrecimento fácil, mentiroso, acabou prejudicando todo o potencial que elas podem gerar para a melhora das condições de saúde em várias doenças como a obesidade, osteoporose, artrose, doenças pulmonares e cardíacas. E é sobre isso que escreverei na próximas linhas, estudos científicos atualizados que mostram o benefício do uso das plataformas vibratórias que, na DoctorFit, utilizamos há oito anos em todas as sessões de treino com nossos clientes.

Nos últimos 20 anos o TVCI vem sendo estudado e aplicado como uma alternativa de modalidade de exercício para o ganho de força muscular. Esse método foi proposto a partir das pesquisas sobre o impacto da vibração nos mecanismos corporais, entre eles a ativação do complexo músculo-tendões, estimulação da contração excêntrica e concêntrica, bem como melhora da resposta de contração muscular reflexa. A vibração, portanto, tem potencial de gerar estímulos na condução nervosa, ativando os neurônios motores inferiores a partir da medula espinhal que induziram a ação motora involuntária rápida. Por seu potencial para aumentar a força e potência dos músculos esqueléticos pode ser empregada, junto com outros métodos reconhecidos de treinamento físico, com o objetivo de melhorar a performance.

Qual a influência sobre o corpo?

Em um estudo de Huang & Pang (2019), sobre a influência da vibração de corpo inteiro na postura e ativação da musculatura de membros inferiores em pessoas com sequelas de AVC, 32 participantes foram divididos em três grupos: com vibração (20Hz, 30Hz, 40Hz) e amplitude de 0.8 mm; vibração (20Hz, 30Hz, 40Hz) e amplitude de 1.5mm e o grupo sem vibração. Observaram que a musculatura da panturrilha (gastrocnêmio), bem como o bíceps femoral (porção posterior da coxa) tiveram uma ativação muito maior quanto adicionado o estímulo vibratório. Também conseguiram demonstrar que quanto mais intensa a vibração e maior a oscilação, maior será a ativação muscular. O ponto em destaque cabe a comparação do membro parético com o lado oposto (sem lesão), mostrando que a ativação muscular ocorreu simultânea e bilateralmente da mesma maneira. Este resultado sugere que indivíduos com sequelas motoras podem se beneficiar do aumento da força muscular no TVCI.

Em idosos diversos tipos de exercícios são indicados para a melhora da força muscular e performance física. Lai et al. (2018) avaliaram, a partir de uma revisão sistemática e meta-análise, entre outros métodos, o emprego do TVCI para esse fim. A partir de evidências de 30 estudos controlados e randomizados envolvendo mais de 1500 participantes com mais de 60 anos de idade, concluíram que o treinamento de resistência muscular adicionado ao TVCI estão associados com melhoras na performance física de forma mais efetiva do que os cuidados usuais realizados com a terceira idade.

Para nosso entendimento sobre influência do treinamento em plataforma vibratória sobre a obesidade cito o estudo de Zago, et al. (2018), que após acumular evidências de que o TVCI reduziu o acúmulo de gordura, bem como a adipogênese em ratos, sugere a possibilidade clínica do uso desse método como coadjuvante no tratamento da obesos. Pesquisas levantadas por estes autores concluíram que seis a doze semanas de TVCI em indivíduos obesos pode não só reduzir a massa gorda como também promover melhoras cardiovasculares. Este treinamento tem sido indicado, sem outros exercícios adicionais, nos estágios iniciais do programa de perda de peso por ter estresse metabólico limitado nas articulações, já sofridas do excesso de peso, bem como, sendo um mediador da estimulação da produção de GH sem produzir demasiada fadiga, e, ainda, beneficiar a saúde vascular.

Pacientes especiais como os submetidos a quimioterapia com neuropatia periférica devido ao tratamento também já foram submetidos ao TVCI com resultados animadores, sendo este efetivo no controle e redução da dor. (STRECKMANN, F. et al., 2019).

Um dos maiores benefícios esperados pelo treinamento em plataforma vibratória é a melhora da saúde óssea. Então Cascales, et al. (2019) realizaram uma revisão sistemática e meta-análise sobre o TVCI em mulheres pós menopausa, período muito comum do diagnóstico de osteopenia e osteoporose e identificaram que 6 minutos de treinamento, a 20 Hz de intensidade, com mais de 5mm de amplitude, acima de >108 sessões é indicado para se ter resultados positivos. Esse método sem dúvida é uma intervenção não farmacológica segura e efetiva, em adição a outros treinamentos, para melhorar a massa óssea, reduzindo a perda da densidade mineral nas mulheres em pós menopausa.

Spielmanns (2017) em estudo com pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica – DPOC, realizou pesquisa com dois tipos de intervenção: um programa de TVCI e outro com exercícios de calistenia. Ao final da pesquisa concluiu que o treino na plataforma vibratória resultou melhora da capacidade de realizar exercícios de forma significativa nos pacientes com moderada ou severa DPOC.   

Os pacientes com artrose de joelho também já foram testados pelo grupo do pesquisador inglês Bokaeian (2016) que reuniu 28 voluntários, em um protocolo de 3 sessões de treino por 8 semanas, separados em dois grupos (com e sem TVCI). A pesquisa revelou melhora significativa no grupo que utilizou o treinamento de vibração no teste de 2 minutos de caminhada, pico de torque muscular, potência muscular e performance muscular quando comparado ao outro grupo. Não foram encontradas diferenças significativas em termos de escala de dor ou qualidade de vida, contudo, este estudo sugere que o TVCI para o treinamento de força pode promover resultado efetivo nos pacientes com artrose de joelho.

Wei et al. (2017), concluiu em seu estudo realizado com 80 participantes idosos com história de perda muscular (sarcopenia), divididos em quatro intensidades/durações de treino que: 40Hz de intensidade e 360 segundos de sessão de treino de plataforma vibratória é o mais efetivo treinamento para melhorar a performance da extensão do joelho e que os resultados podem se manter por até 12 semanas após a conclusão do treinamento.

Enfim, diversos pesquisadores têm demonstrado a efetividade do TVCI para a saúde óssea e muscular, e ainda, outros estudos mais recentes abordando a melhora cardiovascular e circulatória. Portanto, um método de treinamento seguro, diferenciado e efetivo.

Dica: Experimente, mas com a indicação e prescrição adequada.

Referências:

HUANG, M.; PANG, M.Y.C. Muscle activity vibration transmissibility during whole-body vibration in chronic stroke. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports. v.29, Issue 6, Jun, 2019, 816-825.

LAI, C.C. et al. Effects of resistance training, endurance training and whole-body vibration on lean body mass, muscle strength and physical performance in older people: a systematic review and network meta-analysis. Age and Ageing, 2018: 47, 367-373.

ZAGO, M. et al. Whole-body vibration training in obese subjects: A systematic review. PLoS ONE. 2018. 13(9): e0202866. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0202866.

STRECKMANN, F. et al. Sensorimotor training and whole-body vibration training have the potential to reduce motor and sensory symptoms of chemotherapy-induced peripheral neuropathy – a randomized controlled pilot trial. Support Care in Cancer. 27, 2471-248 (2019).

CASCALES, E.M.C. et al. Whole-body vibration training and bone health in postmenopausal women. Medicine. 97(34):e11918 · Agosto, 2018.

SPIELMANNS, M. et al. Low-Volume Whole-Body Vibration Training Improves Exercise Capacity in Subjects With Mild to Severe COPD. Respiratory Care March. 2017 v 62 n 3, 315-323.

BOKAEIAN, H.R. The effect of adding whole body vibration training to strengthening training in the treatment of knee osteoarthritis: A randomized clinical trial. Journal of Bodywork and Movement Therapies. Volume 20, Issue 2, Abril, 2016, 334-340.

WEI, N. et al. Optimal frequency/time combination of whole-body vibration training for improving muscle size and strength of people with age-related muscle loss (sarcopenia): A randomized controlled trial. Geriatrics Gerontology International. Volume 17, Issue 10, October, 2017. 1412-1420.

Divulgue para todo mundo :D

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